terça-feira, 16 de novembro de 2010

A Uma Passante, como recriação de À une passante (de Baudelaire)

A Uma Passante

Esse corredor barulhento ao redor de mim tumultua.

Linda, delgada, com particular discrição, uma sutileza misteriosa,

a garota passa, com uma expressão gioconda,

caminhando, balançando o caderno e a bolsa;

alheia e plácida, com seus passos hipnóticos.

Eu, tragado, feito balde que desce o fosso,

por seus olhos, os poços de mel onde se oculta o ferrão,

a doçura que fascina e a dúvida que corrói.

Um clarão... depois a noite! - Beleza fugidia

cujo olhar me faz subitamente abstrair,

não te verei senão entre essas abóbadas?

Aqui; só neste lugar!? No último dia!? Um sempre-nunca!

Não sei onde tu foste, tu não sabes onde vou,

ah se eu a tocasse, ah se eu a conhecesse!!

Gabriel Giglio



À une passante

La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet;

Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.

Un éclair... puis la nuit! — Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité?

Ailleurs, bien loin d'ici! trop tard! jamais peut-être!
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j'eusse aimée, ô toi qui le savais!

Charles Baudelaire

9 comentários:

  1. Não sei francês, então não posso examinar a tradução como tradução em si. De resto, gostei muito.

    Boa sorte com o blog (:

    ResponderExcluir
  2. Fico feliz por ter acompanhado você durante uma parte dessa recriação e por ter visto sua dedicação, sua entrega à ela. Mais bonito ainda só o resultado.
    Tradução de poesia, creio eu, fica muito mais gostosa quando há essa recriação, essa filtragem mais aparente do tradutor. As emoções (e o subconsciente) mais visíveis. Claro que sempre deve-se ter o cuidado técnico e racional, mas em poesia o que realmente conta transcende o que pode ser explicado.
    E você fez isso. Parabéns.

    ResponderExcluir
  3. E quem um dia dissociou tradução da criação? E quem já teve a audácia de colocar o poeta-criador patamares acima do poeta-tradutor? Desfaçamos os nós. E que encontremos o caminho.

    Eu, aqui, presente, não só leitor, mas também tradutor de poesias e leitor assíduo de suas produções, parabenizo essa criação que, como obra-de-arte, chef-d'oeuvre, vi ser edificada e tive o prazer de criticar a você em primeira instância.

    O resultado choca, como deve chocar a poesia do gênio em seu leitor leigo. Todos nós somos leigos ao ler a poesia, visto que lá habitam sentimentos a serem desbravados pelos mais interessados.

    Amei o resultado visto em cada verso. E palmas ao filho e ao pai, sem nomear o espírito santo.

    ResponderExcluir
  4. Isso prova que tradução de poesia não é nenhum bicho-de-sete-cabeças, como esse povo medroso fala.

    Vc não teve medo de se colocar no poema, e transferiu para um contexto tão mais "nosso"!

    Sensacional!

    ResponderExcluir
  5. Gente, mto obrigado! Cada palavra de vcs foi cosida a minhas tecituras cerebrais.

    ResponderExcluir
  6. Nunca imaginei sr. Crente fazendo coisa linda assim. Parabéns ;*

    ResponderExcluir
  7. Vish,também não entendo francês, mas digo que sua poesia tá muito boa (:

    ResponderExcluir
  8. Parabéns, menino! Sinceramente, achei lindíssima sua poesia! xD

    ResponderExcluir